Disciplina - Biologia

Biologia & Ciências

07/11/2013

Ranking de poluição

Por Instituto Humanitas - Unisinos

ONG's listam os dez locais mais poluídos do mundo

Moradores intoxicados com metais pesados, meio ambiente poluído por hidrocarbonetos, substâncias tóxicas ou radioativas: o ranking publicado na terça-feira (5) pela filial suíça da Green Cross e pelo Blacksmith Institute, duas ONGs – a primeira delas foi criada por Mikhail Gorbachev – não tem nada a ver com os "Top 10" das revistas de turismo. Bem pelo contrário, ele "destaca" os dez pontos do planeta onde o impacto da poluição industrial sobre a saúde é maior.

A reportagem é de Gilles van Kote, Jean-Michel Caroit e Marie Jégo, originalmente publicada no jornal Le Monde, e reproduzida pelo portal Uol, 06-11-2013.

Três desses lugares ficam na África, três no Leste Europeu e três na Ásia, e um representante argentino completa a lista. A Rússia e a Indonésia são mencionadas duas vezes, ao passo que a China não marca presença. Quatro locais já constavam no ranking anterior, feito em 2007: Dzerjinsk e Norilsk, na Rússia; Chernobyl, na Ucrânia; e Kabwe, na Tanzânia.

O primeiro foi um grande centro de produção de armas químicas na época soviética. Trezentas mil toneladas de resíduos tóxicos teriam sido colocadas ali entre 1930 e 1998, em instalações muitas vezes mal identificadas. A expectativa de vida nessa cidade de 250 mil habitantes, por muito tempo proibida aos estrangeiros, era de 42 anos para os homens e de 47 anos para as mulheres em 2006, ou seja, vinte anos a menos que a média nacional, segundo um estudo citado pelo relatório. "A água dos lençóis freáticos é imprópria para o consumo", afirma Dmitri Levachov, da associação ambiental Eco Dzerjinsk.

Norilsk, um antigo gulag, é um dos maiores centros de produção de níquel do mundo. A floresta desapareceu em um raio de trinta quilômetros em torno da cidade. Em Kabwe, onde o chumbo foi explorado e derretido durante quase um século sem precauções especiais, foram detectadas concentrações do metal no sangue de crianças que chegavam a até quarenta vezes o limite recomendado.

Embora o acidente nuclear de 1986 tenha garantido a Chernobyl um lugar nessa lista, Fukushima escapou... por enquanto. "A dimensão dessa catástrofe ainda não foi totalmente apreendida", acredita Stephan Robinson, da Green Cross Switzerland. "Seus efeitos sobre a saúde humana só serão visíveis daqui a alguns anos. E, diferentemente de Chernobyl, a população pôde ser evacuada."

O principal critério escolhido para estabelecer essa classificação na verdade é a importância do impacto sobre a saúde das populações. Esse "Top 10" pretende ser um retrato destinado a conscientizar a comunidade internacional sobre os danos humanos provocados pela poluição industrial localizada. Assim, a poluição atmosférica difusa ainda não é levada em conta.

Os autores do ranking, embora afirmem se basear em "um protocolo padrão", reconhecem ter dado espaço para a subjetividade. Se Agbogbloshie, bairro de Acra, capital de Gana, contaminado pelo desmonte clandestino de eletrodomésticos velhos vindos da Europa, e Kalimantan, a parte indonésia de Bornéu, envenenada pelo mercúrio utilizado pelos garimpeiros, estão na lista, é porque para além dos números brutos, eles representam duas fontes de poluição particularmente devastadoras em nível mundial.

O recenseamento efetuado para chegar até essa lista pretendia ser bem mais completo do que o da edição passada. Mais de 2 mil pontos, distribuídos por 49 países, foram estudados. A América do Norte e a Europa Ocidental foram deliberadamente ignoradas, pois essas regiões do mundo transferiram suas indústrias mais poluidoras de lugar. As fabricantes italianas de sapatos importam couro provenientes de curtumes situados na Ásia que usam cromo hexavalente, gerando graves contaminações, assim como em Hazaribagh, em Bangladesh, outro local que consta no ranking.

A pesquisa estima em 200 milhões o número de pessoas que seriam potenciais vítimas da poluição de origem industrial nos 49 países estudados e lembra que, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), 23% das mortes nos países em desenvolvimento são atribuíveis a fatores ambientais. "A falta de recursos necessários nos países de renda baixa ou intermediária agrava os efeitos da poluição sobre a saúde ao marginalizar aqueles que mais precisam de ajuda", afirmam os autores.

Para além da constatação pouco animadora, Stephan Robinson acredita que progressos tenham sido efetuados em termos de conscientização e de mobilização. A convenção de Minamata sobre o mercúrio foi assinada nos dias 10 e 11 de outubro por 91 países. O governo russo, que por muito tempo permaneceu indiferente, estaria se preparando para lançar um plano federal de descontaminação dos pontos poluídos – entre eles o de Djerzinsk – com uma verba de 100 bilhões de rublos (mais de R$ 7 bilhões).

"Fora a falta de recursos, o problema que encontramos mais frequentemente é a falta de uma estratégia nacional e de infraestrutura de gestão de resíduos tóxicos", observa o especialista da Green Cross Switzerland. "É difícil esperar o que quer que seja quando as autoridades nem mesmo sabem responder a essas questões básicas sobre o que pretendem fazer com esses resíduos e terras contaminadas."

Dos lugares que constam no ranking de 2007, somente um pode ser considerado hoje como descontaminado, segundo o relatório: o de Paraiso de Dios, na República Dominicana, onde empresas de reciclagem de baterias de carros haviam provocado um envenenamento por chumbo da população. Mas, de acordo com associações de moradores, essas mesmas empresas agora se instalaram em bairros vizinhos, onde retomaram suas atividades sem muito mais controle do que no passado.

Esta notícia foi publicada em 07/11/2013 no site: ihu.unisinos.br. Todas as informações nela contidas são de responsabilidade do autor.
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