Biologia & Ciências
11/07/2014
Perigo dos Pesticidas para Aves
Pesticidas que matam abelhas também afetam aves, sugere estudoPor G1 - Natureza
Análise foi feita por pesquisadores da Holanda e publicada na 'Nature'. Insetos que fazem parte da dieta de aves seriam afetados por pesticidas.
Suspeitos de matar abelhas, os chamados pesticidas neonicotinoides também podem afetar as populações de aves. Insetos que fazem parte da dieta dos pássaros desapareceriam sob efeito desses produtos, causando impacto aos animais, revela um estudo publicado esta semana na revista "Nature".
O novo artigo foi elaborado depois que um painel internacional de 29 especialistas revelou que aves, borboletas, minhocas e peixes eram afetados por inseticidas neonicotinoides, embora detalhes desse impacto sejam incompletos.
Estudando regiões na Holanda onde a água superficial tinha altas concentrações de uma substância química chamada imidacloprida, descobriu-se que a população de 15 espécies de aves caiu 3,5% anualmente em comparação com lugares onde o nível do pesticida era menor.
A queda, monitorada de 2003 a 2010, coincidiu com o aumento do uso da imidacloprida, destacou o estudo conduzido por Caspar Hallmann, da Universidade Radboud, em Nijmegen.
Alterações graves
Autorizado na Holanda em 1994, o uso anual deste neonicotinoide aumentou mais de nove vezes em 2004, segundo cifras oficiais. Descobriu-se que grande parte deste produto químico foi disperso em concentrações excessivas.
Ao acabar com os insetos - uma fonte de alimento crucial na época da reprodução -, ele afetou a capacidade das aves de procriar, sugeriram os autores, alertando que outras causas não poderiam ser excluídas.
Nove das 15 espécies de aves monitoradas eram exclusivamente insetívoras. "Nossos resultados sugerem que o impacto dos neonicotinoides no ambiente natural é inclusive mais substancial do que foi reportado no passado", revelou a pesquisa. "No futuro, a legislação deveria levar em conta os efeitos em cascata potenciais dos neonicotinoides nos ecossistemas", acrescentou.
Estes pesticidas são amplamente usados no tratamento de sementes para cultivos aráveis. Eles são projetados para serem absorvidos pela muda em crescimento e são tóxicos para o sistema nervoso central de pestes devoradoras de plantios. Em um comentário publicado na "Nature", o biólogo Dave Goulson, da Universidade de Sussex, na Grã-Bretanha, disse que os neonicotinoides podem ter um impacto de longo prazo nas populações de insetos.
Cerca de 5% do ingrediente ativo do pesticida é absorvido pelo cultivo, afirmou.
A maior parte do restante entra no solo e na água subterrânea, onde pode persistir por meses, ou até anos. Diminuir à metade as concentrações pode levar mais de mil dias. Como resultado, as substâncias químicas se acumulam, sendo os campos aspergidos sazonal, ou anualmente, complementou.
Gordon disse que o processo é similar ao do DDT, um pesticida conhecido, cujos danos ao meio ambiente vieram à tona em 1962, graças à pesquisa de Rachel Carson, que resultou no livro "Primavera Silenciosa". A discussão sobre os neônicos tem aumentado desde o final dos anos 1990, quando os apicultores franceses culparam-nos pelo colapso das colônias de abelhas melíferas.
Moratória aprovada
Em 2013, a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA, na sigla em inglês) declarou que os pesticidas neônicos representavam um "risco inaceitável" para as abelhas.
A isto se seguiu um voto da União Europeia a favor de uma moratória de dois anos ao uso de três substâncias químicas neonicotinoides amplamente utilizadas nos cultivos de flores, que são visitados pelas abelhas.
Mas a medida não afeta a cevada e o trigo, nem afeta pesticidas usados em jardins e em áreas públicas. No mês passado, a Casa Branca determinou que a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos faça sua própria revisão sobre os efeitos dos neonicotinoides nas abelhas.
Esta notícia foi publicada em 10/07/2014 no site g1.globo.com. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.